domingo, 5 de outubro de 2008

Arte-Educação

A atual situação do mundo ocidental é preocupante. O racionalismo e o individualismo extremos, a desvalorização dos sentimentos, do lúdico e da natureza conduziram o Ocidente a uma expansão tecnológica sem precedentes, mas também a uma terrível atrofia do ponto de vista humanitário.

As guerras constantes, a cobiça inesgotável e o total desprezo pelas necessidades do outro são apenas alguns exemplos das pragas do mundo atualmente. Existem outras deformidades, uma mais apavorante do que a outra, e todas deixam uma sensação fatalista no ar: a de que a civilização ocidental acabará por devorar todos os recursos que a natureza oferece, acabando assim por devorar a si própria.

Neste clima apocalíptico surge a Arte-educação, não como uma solução final, mas como um caminho, uma forma de encontrar alguma luz para o problema. Porque todo esse racionalismo, a produção desenfreada e o individualismo generalizado apontam para uma necessidade de sensibilização. Um retorno aos sentimentos, à empatia, ao jeito orgânico e coletivo de ser-e-pensar.

A tudo isso a arte engloba: os Símbolos da arte falam da universalidade, do coletivo, do conhecimento do outro, da compreensão do outro. Ela amplia as percepções e os horizontes, fazendo com que o observador entre em contato com seus sentimentos, com o seu eu, seus sonhos, sua imaginação.

E que melhor lugar para aprofundar os Símbolos da arte do que no ambiente escolar? As mentes, ainda em formação, estão prontas para desenvolver a empatia, o sentimento e a imaginação necessárias para virar essa mesa, se estimuladas corretamente. A escola que há atualmente traz já respostas prontas a questões que nem sempre são as dos alunos, e age com objetividade e utilitarismo, dando como conteúdo aquilo que se acredita necessário, mesmo que o próprio aluno não veja utilidade ou necessidade. Isso acontece porque o programa das disciplinas é pré-fabricado, padronizado, mas os estudantes não são. E todo o objetivo da escola atual é gerar pessoas-máquinas, que executarão suas tarefas e competirão com toda a força do seu individualismo no mercado de trabalho.

É um círculo vicioso, onde o utilitarismo alimenta a si mesmo, suprimindo tudo o que considera inferior e desnecessário: o sentir, o sonhar, a criatividade, a imaginação e a utopia.

A proposta da Arte-educação não é simplesmente incluir mais uma disciplina na escola que atualmente existe, chamada Educação Artística, num esforço de dar aos alunos um contato com a arte, seus Símbolos e seus benefícios. A Arte-educação busca, antes, um novo modo de ensinar todas as disciplinas presentes no currículo escolar, levando em consideração o educando, seus interesses, sua construção de mundo.

Busca incluir educadores em um sistema que agora alimenta professores-burocratas, quebrar a ordem utilitária da educação para dar voz a mestres e alunos, para colocar expressão, criação e percepção onde agora há apenas uma travessia autoritária de verdades incontestáveis. Busca acordar em todos a visão de que somente a razão, o trabalho e o consumo não levarão a outro lugar que a destruição dos recursos e, consequentemente, do planeta. Busca abrir espaço para os projetos e utopias que, na verdade, são o que move o mundo, o que possui o poder de alterar a realidade. Busca equilibrar as forças, e criar uma sociedade mais consciente, completa, íntegra. Busca, por fim, reforçar os laços culturais e interculturais, no intuito de banir a dominação e a padronização, ambas tão maléficas para a formação e sustentação de um povo.

Na Arte-educação, portanto, vive uma possibilidade de resgatar dentro de cada um os próprios meios e ferramentas para se mudar o mundo e chegar a um futuro melhor, por utópica que essa idéia possa parecer agora. Mas é como disse o poeta francês Lamartine: “As utopias são verdades prematuras.”

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