domingo, 18 de maio de 2008

Incompletude


Às vezes acho que o que me condena, no fundo, é pensar demais... às vezes nem eu mesma sei o que quero.

Acho que é destino humano sentir-se sempre meio vazio. É como se sempre faltasse algo, sempre houvesse um vácuo por dentro que nada poderia preencher...

Lembro muito de quando primeiro identifiquei esse estranho vazio, eu era ainda pré-adolescente, com todos os meus medos ilógicos e sonhos impossíveis. E minha mãe cantou pra mim, naquela ocasião, uma música do Djavan que diz "Vou andar, vou voar/ Pra ver o mundo/ Nem que eu bebesse o mar/ Encheria o que eu tenho de fundo." E então, me explicou que só se sente vazio quem é profundo...

Lembro também de como essa sensação de incompletude tornou-se uma espécie de solidão interna. Depois de um tempo, foi como se se instalasse dentro do meu peito algo que era como uma imensa saudade de mim mesma. Era como se eu estivesse permanentemente sozinha, não importando quem estava à minha volta, fosse minha melhor amiga, fossem meus pais, fosse a minha galera da adolescência, que me fazia tão feliz.

Daí em diante, a busca girou em torno de uma coisa só... matar a solidão.

Na minha vida, nunca fui muito de sofrer por amor. Lembro que sofri horrores quando eu tinha 11 anos e era apaixonada pelo Shiryu de Dragão, dos Cavaleiros do Zodíaco. E chorei um pouco quando me dei conta que um cara que eu gostava me via como um objeto descartável. Mas, nas vezes que mais sofri "por amor", já me dei conta, minhas lágrimas eram invariavelmente pela contraparte "amizade" da história. Sofri muito quando minha melhor amiga ficou com o cara de quem eu gostava... por causa da amiga, não pelo cara. Também chorei rios quando meu namoro com meu melhor amigo não deu certo... porque perdi a amizade dele, não pelo namoro em si.

Em suma... a maior origem da minha dor sempre foi a amizade... amizade... essa palavra tão típica da adolescência, tão superestimada, tão linda. Pra você, o que é amizade?

Pra mim é uma palavra que representa um sentimento de bem-querer... um amor profundo, sem barreiras e sem limites, que você pode sentir por uma pessoa, e que a torna tão sua que é como se o sangue que corre nas suas veias fosse o mesmo que o nas dela. É um desejo de estar perto, de somar, de dividir e de trocar tudo com a pessoa, experiências, idéias, sonhos. Sabe que, pra mim, amizade é um troço tão importante que eu nem consigo pôr em palavras o total sentido que eu vejo?

Mas voltando ao sentimento de incompletude. Por algum motivo maluco, eu sempre tentei reduzir essa solidão interna através de amizades muito profundas. Sou daquelas pessoas que se doam completamente, se entregam às amizades. Meu ideal logo tornou-se encontrar a Amizade Verdadeira, uma pessoa que me entenderia completamente, me apoiaria quando eu precisasse, cuidaria de mim e deixaria eu cuidar dela. Uma pessoa que teria sempre tempo pra mim, que sempre acompanharia minhas idéias loucas e nunca me desapontaria... enfim, uma pessoa que não existe. Que não tem como existir. Que, na melhor das hipóteses, viveria na minha imaginação.

Dá pra imaginar o grau de frustração? Frustração imensa, massiva, palpável. Frustração aos litros, às toneladas. Metros e metros de frustração. Frustração até dizer chega.

A certeza da frustração é tão grande, tão clara, que chega a ser maluquice insistir num negócio desse. Eu sou doida só de pensar em tentar. No entanto, com meu cérebro de ser humano idiota, imperfeito, limitado, é só o que eu faço, continuamente, todos os dias. E assim caminha a humanidade, não é mesmo? Não há o que se fazer.

Por isso, digo que penso demais. O vazio persiste. Continuo sozinha dentro de mim mesma. A concha. Ainda sou a concha.

Só um momento da minha vida não senti essa solidão devoradora... em setembro de 2003. E essa é uma proeza que não me imagino capaz de repetir. Mas deixa essa história pra outro post. Já falei demais.

2 comentários:

Nightmare Before Christmas disse...

Não tem jeito, as pessoas estã sempre a procura de algo..sempre com um vazio pra preencher mesmo! Se esse vazio acabar, se tudo estiver completo, nós vamos a busca de algo que não esteja mesmo que não exista...é estranho, e é foda =/ Mas tudo se resume ao que sua mãe disse, procuram por algo os que são profundos! Talvez os que precisem saber que nada aqui é a toa...que a vida não é comer, trabalhar e dormir..que existe um significado, não é? Enfim...Tou contigo nessa desde a adolescência, Lali =)

Beijos, querida!!

Nightmare Before Christmas disse...

P.S: Silvia acima! hahaha!